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Eu já tinha lido anteriormente, mas não tive tempo de fazer meu review. Este eu vou pegar um pouco mais pesado e vai ser bem longo, mas provavelmente vai ser o último desse jeito. 

A sensação que tive ao ler essa edição e relembrando as outras foi de que muitos autores ainda estão em uma fase inicial do processo. Para muitos, é a primeira obra publicada. Nessa etapa, é natural que ainda estejam desenvolvendo sua identidade artística, testando ideias e experimentando com narrativa, ritmo e composição de páginas. Ainda tem muito espaço para evolução, tanto dentro das obras atuais quanto, principalmente, nas futuras que virão.

Aqui na revista já existe uma obra muito boa que é Kintsugi. Se ela fosse publicada em alguma outra revista do japão e chegasse aqui como uma obra normal, eu não estranharia. Blue Steel e Tamers também é divertido de ler, um nível agradável.

Mas algumas outras obras carregam vícios bem claros, principalmente para quem já leu muitas obras brasileiras mas principalmente uns manhwas de qualidade duvidosa, em que os autores claramente estavam também na mesma fase de início. É fácil perceber certos clichês recorrentes e inspirações evidentes em outras obras. Muitas vezes, o autor parece focado em tentar recriar uma cena, um painel ou uma frase que o marcou, e acaba perdendo a oportunidade de criar sua própria cena icônica. A intenção é compreensível, mas o resultado não é muito positivo. Minha crítica desta edição vai se concentrar nesses pontos. 

Feita essa grande introdução, vamos para a primeira história

Alice Animo: Sempre bom falar antes da review de Alice é que eu não sou lá o maior fã. Primeiro vou falar do ponto positivo. Apesar da possível polêmica em relação ao lado "pervertido", a apresentação da Bell não foi ruim. A primeira cena, com ela explodindo algo enquanto está trabalhando, a chegada da guarda real e ela demonstrando uma personalidade forte, é uma introdução ok. Não tem nada de muito ruim. Existem clichês a todo momento? Sim. Mas eles são aceitáveis, não são ofensivos nem atrapalham a leitura.

Os personagens de Alice, até agora, seguem arquétipos bem conhecidos, mas com certa consistência. Eles têm personalidade e eu acredito até que isso vai se tornar o maior ponto positivo da obra, o carisma de alguns personagens para quem gosta. Obviamente o grandalhão detestável, só existe justamente para isso, pra gente não gostar dele e, quando alguém bater nele, esse alguém parecer positivo. É clichê, mas novamente, não é necessariamente ruim.

Sobre a cena com a outra menina: se eu fosse o autor, tomaria mais cuidado daqui pra frente. Dá pra ver que ela tropeça e cai em cima da Bell que estava com as mãos pra frente, então é possível dizer que foi um """acidente""". Mas é bom amenizar esse tipo de cena com muito "contato" no futuro pra evitar usar certos termos kkkk. Não dá pra fazer como o Meliodas ou o Mineta, esse tipo de personagem não da pra fazer de qualquer jeito hoje em dia (Ainda bem), principalmente por estar no Brasil. 

Tem também a questão das falas. Em alguns painéis, eu percebo que talvez eu tenha passado da idade pra curtir esse tipo de história. Por exemplo, a cena em que os três se apresentam, um diz que é a heroína, outro se apresenta como o lendário super mago soa vergonhoso. Talvez funcione pra o público correto que provavelmente não sou eu.

Outra coisa, tem uma parte em que a menina diz "peguem essa tarada", e vemos um total de DOIS guardas saindo de posição e sendo derrotados por um soco, depois mais DOIS. Não existe um senso real de perigo nessa cena. Os inimigos são randons, e quando os três protagonistas chegam, o leitor nem tem como entender que eles estão cercados ou em desvantagem. A pose final dos três me deixou um pouco desconfortável, porque parece que estão fazendo pose de combate para lidar com os inimigos, mas quem são esses inimigos? 

Dito isso, eu vou continuar lendo. Acho que a obra tem potencial pra melhorar. Acredito que o autor vai saber desenvolver melhor a interação entre os personagens de forma mais agradável pra quem gosta desse estilo. E provavelmente vai evoluir também nos aspectos técnicos de roteiro. Imagino que, com o tempo, a Shonen West vá pesar um pouco mais a mão no direcionamento, é inevitável.

Bull's Eye: Partindo para Bull's Eye. Se o comentário sobre Alice foi grande, esse aqui vai ser igual.

Eu "gostei" do capítulo, e para ficar bem claro eu também não sou fã de Bull's Eye. Mas esse, em específico, foi um capítulo ok até a antepenúltima página.

A nova personagem foi apresentada de forma interessante. Foi mostrado mais um artefato, e em nenhum momento parece que ela está realmente em perigo para aqueles soldados, o que faz com que a interação entre ela e os meninos seja naturalmente mais leve. E, ao mesmo tempo em que esse tom leve é mantido, o capítulo tenta construir uma tensão sobre o que vai acontecer na praça. Isso foi feito de forma legal. A tensão então é construída pela Sophia, sobre o que vai acontecer. E nesse ponto já é possível imaginar.

Já vimos que ela está sendo perseguida pelo Império de Tartaria, que aparentemente é um império rival de Lainsford. A expectativa, então, é de que algo vá explodir depois da revelação, algum tipo de conflito causado por esses invasores do outro império. E o capítulo todo vai nessa direção.

Mas então chegamos à fatídica cena, a revelação do artefato que pode trazer a paz mundial — O One Piece A estátua Seraphina Vox é real. 
E aqui vem minha maior crítica e vai ter alguns spoilers de One Piece (Mesmo fazendo anos que já foi dito).

Os autores parecem muito animados em mostrar suas referências, em trazer inspirações de outras obras. Isso é natural e até legal quando bem trabalhado. Mas é importante entender que certas cenas icônicas foram construídas sobre um contexto muito forte, com preparação e acúmulo emocional.

Aqui, em Bull's Eye, não sabemos o que são exatamente os artefatos. Não sabemos o que é esse artefato em específico. Sabemos que está relacionado à “paz mundial”, mas não sentimos o peso disso. Não sabemos o quanto esse mundo está assolado em guerra, o quanto os conflitos são intensos. Isso não foi bem trabalhado ainda.

Talvez, alguns capítulos mostrando melhor o contexto geral do mundo, nem precisa ser expositivo, só mostrar certos locais, ou ao menos o primeiro capítulo trazendo essa ambientação, ajudassem para que esse momento da revelação tivesse mais impacto. Ou talvez uma abordagem diferente fosse mais eficiente.

O discurso da professora estava se encaminhando para o início de um conflito. Era só fazer com que o painel final fosse o estopim disso. A revelação do artefato e a comemoração poderiam acontecer antes da fala sobre a praça virar um campo de guerra. Teríamos todos felizes, celebrando, e a fala dela cortando esse clima, trazendo a virada. Isso criaria um contraponto emocional interessante e funcionaria muito bem como gancho. É meio clichê? Sim, mas como eu falei em Alice, nem sempre isso é ruim.

O que tivemos foi um painel final sem impacto emocional que poderia ter existido. Porque, no fim, não conhecemos bem esse mundo, então não nos importamos o suficiente ainda. Eu não vou dizer que o capítulo é ruim por conta de 3 páginas. Mas elas me tiraram da imersão.

Talvez esse tenha sido o melhor capítulo da obra até agora, e mesmo assim, o final me deixou com o pé atrás.

Kintsugi Warrior: Não vou me estender muito na parte técnica, porque ela é impecável.

O capítulo inteiro é construído para nos levar a uma revelação sobre os terremotos, enquanto alterna com cenas dos dois coadjuvantes, criando uma tensão crescente. Tudo isso vai se acumulando até que a situação explode e, quando o personagem revela o que está acontecendo, temos o próprio protagonista dizendo que ele é o problema.

É exatamente disso que eu estava falando nas análises anteriores: o capítulo se direciona para essa revelação. E, por si só, ela já seria o ponto de clímax suficiente pra deixar o leitor ansioso pelo próximo capítulo. 

No capítulo também já foi apresentado que a menina possui uma "centelha" e surge um possível antagonista.

Enfim, estou bem ansioso pelos próximos capítulos. É uma obra muito boa, não tem muito o que falar além disso.

Bliss: é o tipo de obra que, pra mim, sempre entra como ouro, assim como foi com Fio.

Não é muito comum darem espaço para esse tipo de história, então vê-la ranqueada em uma posição alta pode ser um indicativo de que certos autores vão começar a experimentar mais com esse formato. Não necessariamente histórias sem diálogos, mas histórias curtas, fechadas, sem grandes mensagens por trás, apenas como forma de treino, tanto de escrita quanto da parte artística.

A obra é muito bonitinha. Talvez, com algumas páginas a mais, a gente pudesse se apegar um pouco mais à personagem e à história, mesmo sendo uma narrativa curta. Mas, ainda assim, funciona. É uma história legal, com traço bonito, e que consegue transmitir tudo o que precisa sem a necessidade de falas.

Não tem muito mais o que dizer: é ouro. Curtinha, fechada, simples e bem feita.

The Little Black Smith: foi bem divertida.
Gostei bastante do humor e é basicamente isso.

É uma história feita pra gente não passar o mês sem capítulo, e ainda assim consegue ser divertida. Não tem nada de ruim. Tem graça, tem um ritmo leve e, até certo ponto, consegue trazer um pouco de profundidade na relação dos dois personagens com o passado, mas nada demais também já que é curtinha.

No fim, foi um bom capítulo. Simples, direto e funcional.

Ficou extremamente longo dessa vez
E apesar de tudo que falei, pra mim esses capítulos mostram evolução. Mesmo nas obras que mais critiquei, dá pra ver um avanço em relação ao que foi apresentado no início. Em alguma das edições, não lembro se foi a terceira ou a quarta, eu disse que era a pior edição da revista. Desde esse dia, todas só melhoraram. Essa inclusive é uma das mais equilibradas

E é justamente por isso que vou tentar evitar pegar tão pesado agora, mesmo quando for um pouco mais crítico. Até porque eu não sou especialista nem nada disso. Só leio, observo e dou minha opinião. Posso estar falando tecnicamente atrocidades aqui, mas é meu ponto de vista.