Eruru é responsável por dar vida a Tamers, obra com roteiro de Matheus Avanço: “Eu tô lançando, né, o Tamers com o Matheus Avanço na Shonen West. Foi muito legal trabalhar com uma história que não é meu roteiro. “Eu vou ter o meu próprio roteiro, minha história com o meu roteiro. Mas eu também queria trabalhar com outra pessoa, como co-autora, porque é uma experiência diferente. Eu nunca tinha trabalhado com co-autor, então essa é a primeira vez que estou trabalhando usando o roteiro de outra pessoa e ajudando a dar mais vida a esse roteiro.”
A paixão da desenhista por mangás começou ainda na juventude, quando ela sonhava em criar suas próprias séries: “Todo bom viciado em mangá, que queria desenhar e criar suas próprias séries, começa a tentar produzir. Eu vou chamar de tentativa de produção porque, na época, não foi para frente por falta de técnica, né? Mas como toda pessoa que sonha em fazer suas próprias histórias, comecei a tentar produzir mangá aos 20 anos, mais ou menos. Claro que eu já desenhava antes, aos 15, 16 anos, rabiscando aqui e ali. Mas tentar realmente criar uma história, com páginas, painéis, e fazer um roteiro, isso foi lá pelos 20 anos.”
A mangaká comenta que existiu uma certa frustração com seus primeiros desenhos, já que suas séries nunca ficavam semelhantes aos originais japoneses: “A gente desenha, desenha, desenha, e não fica igual ao mangá que vem do Japão. Desenha mais, desenha mais, mas continua não ficando igual. Parece, né? Fica parecido.” Eruru comparou suas tentativas a um mímico, pois mesmo sendo visualmente semelhante, não possuía a essência dos originais: “Tipo um mímico, né? A gente faz uma mímica do mangá japonês e ele fica parecido. O problema é que, quando a gente vai ler, quando mostramos para outras pessoas, não fica legal, sabe? Não fica bacana. Faltava alguma coisa, e isso me frustrava.”
Durante seu período na faculdade de administração, a ilustradora chegou a cogitar largar a criação de mangás. Entretanto, durante uma aula de macroeconomia, o professor começou a explicar sobre a indústria de animes e mangás japoneses: “Nossa, foi ótimo. E aí, foi o destino. Foi a aula que mudou tudo. Porque, depois dessa aula, eu falei: 'Tem um caminho ali pra eu viver, né? Tem como.' Mas o problema ainda persistia. Apesar de a aula ter me animado para tentar investir mais, ainda havia o problema do know-how. Como se faz um mangá de verdade?”
Eruru decidiu que deveria estudar no Japão para se aprofundar ainda mais no universo dos mangás: “Eu não queria uma imitação. Por mais que fosse bonita, eu não queria isso. Eu queria o original. Saber como fazer um mangá original. Falei: 'Cara, se é assim, vou estudar no Japão.' Porque aqui no Brasil não tinha curso. Havia algumas escolas que ensinavam a desenhar mangá, mas antes da ME2 Art Studio, que é a escola do Osamu-sensei, diretor-chefe da Shonen West, não existia uma escola que ensinasse técnicas de narrativa visual e roteirização. Não havia uma escola que ensinasse a técnica de produção de um mangá completo.”
Ela conta que, na época, não existiam escolas no Brasil que ensinassem sobre o desenvolvimento de mangás, o que a levou a planejar sua viagem ao Japão: “Havia escolas que ensinavam a desenhar no estilo mangá. Ou seja, eu poderia aprender a desenhar o Naruto, o Dragon Ball, o Bleach. Desenhar parecido com o que achávamos que era mangá. Mas o produto original, a história por trás do mangá, não existia antes da escola do Osamu-sensei. Então, o que a gente fazia? Vai pro Japão, né? Tem outro lugar pra aprender? Não! Então, a gente vai pro Japão. Aí, como o curso de administração ensina a gente a planejar muitas coisas a longo prazo, comecei a planejar.”
Após anos de planejamento, aprendendo a língua e economizando, Eruru finalmente conseguiu desembarcar em terras nipônicas. A escola em que se matriculou, em Tóquio, possuía um programa para alunos estrangeiros, mas nunca tinha recebido brasileiros antes: “Eu não tive dificuldade com a língua, porque já cheguei lá falando. As pessoas até se assustavam. Quem vai pra lá normalmente entende a língua, mas não consegue conversar. No meu caso, como eu já tinha me preparado, conseguia me comunicar.”
Durante sua estadia no Japão, a autora descobriu uma diferença significativa na forma de contar histórias no Ocidente e no Oriente: “Existe uma diferença no estilo de contar histórias entre o Ocidente e o Oriente. Há um senso comum, uma prática que os japoneses já têm antes mesmo de começar a produzir mangás, algo que eles aprendem na escola. Esse tipo de pensamento é algo que a gente, que vem de fora, não tem. Falta uma peça importante para entender como se produz um mangá de verdade.”
Com uma bagagem maior sobre a produção de mangás japoneses, Eruru retornou ao Brasil e começou a trabalhar com Maurício Osamu e Matheus Avanço na criação de Tamers: “Agora estou aplicando todo esse conhecimento que adquiri no Japão. Depois que voltei e conversei com nosso editor-chefe, o sensei Maurício Osamu, tudo ficou ainda mais claro na minha cabeça. Toda vez que vejo um comentário das pessoas sobre a história, entendo como manipular a narrativa para agradar melhor esse público. Contar histórias é muito mais do que só desenhar um mangá.”
Para finalizar, a desenhista comentou sobre sua perspectiva em relação ao consumidor brasileiro: “Eu gostaria que o público brasileiro aprendesse a consumir. O que é aprender a consumir? O público brasileiro não sabe consumir porque nunca tivemos um ecossistema de mangás aqui no Brasil. O que ele consome é o que o público japonês fez para o consumidor japonês, e o consumidor japonês sabe como consumir e qual é o papel deles em consumir mangá.”
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inspirador! tenho fé que o mercado de quadrinhos/mangas no brasil irá crescer cada vez mais e, um dia, diversos profissionais talentosos do nosso país poderão criar obras ainda mais incríveis e receberem dignamente por isso!
Cara isso é muito inspirador, seu projeto com Tamers e o meu favorito da revista.
Verdade, essa forma de contar história da forma deles lá, é bem interessante e é isso que faz com se torne tão bom, e adaptar isso pra cá ou trazer essa forma tem um intuito muito legal como o kemi disse aí.
Muito bom!